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Showing posts from May, 2022

Uma terra prenha de esperança

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Os líderes europeus que acreditam ser possível dobrar a Russia deveriam ser obrigados a fazer o Transiberiano. Desde logo, para se verem à escala. Anões convencidos que são gigantes, porque assim se veem no espelho mágico que dominam. Depois, para se aperceberem da imensidão de recursos de que a Rússia dispõe. Água, terra, combustiveis, minas, e um povo rijo e unido, apesar dos triliões gastos pela CIA e pelo MI qualquer coisa a fomentar todo o tipo de nacionalismos e divisões. A Rússia é a ponte entre a Europa e a Ásia, mas a "Europa" terá de abdicar do colonialismo que impregna as suas elites. É provavel que enquanto dois blocos capitalistas, o confronto seja inevitável. Só o socialismo e o poder dos trabalhadores, libertando o planeta dos exploradores e de um modo de produção assente na concorrência, poderá libertar a promessa de um mundo de paz e prosperidade que emana desta terra. Já estivemos mais perto, é verdade. Mas tambem já estivemos mais longe...

O Lénine de Ulan Ude

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Em Ulan Ude, capital da República Buriática, em lugar destacado da sua Praça principal, encontra-se o maior busto de Lénine do mundo. A colocação de uma bandeira russa com o V resulta, no entanto, estranha. Tendo morrido há quase um século, Lénine não tomou qualquer posição sobre a operação militar em curso. Mas as suas posições anti-imperialistas e contra o chauvinismo grão-russo são claras e devem servir para alguma cautela. Os bolcheviques tanto são aqueles que votaram contra os créditos de guerra em 14, como aqueles que fizeram a paz de Brest em 18, cedendo um imenso territorio para conseguir a paz com a Alemanha, como são aqueles que derrotaram a agressão externa de 14 potencias na chamada "guerra civil" de 18/22. Mas factos são factos. E esta é a imagem da Praça Central de Ulan Ude, em 29 de Maio de 2022, uns poucos quilómetros a norte da Mongólia.

Sobre a barragem do Angara

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Visitámos hoje um gigantesco museu ao ar livre. A sua história merece ser contada. Quando a URSS decidiu construir a barragem no Rio Angara, vieram equipes para avaliar e preservar o património que ia ficar submerso, e com o qual se construiu este monumental museu ao ar livre, com mais de 10 Km de extensão. Uma barragem que por sua vez permitiu desenvolver a indústria da região, e cujas primitivas unidades aqui se encontram igualmente preservadas. Esta é a história, que pode ser apreendida com facilidade. Mas que não é a estória que nos é contada. Nem aqui. Há um esforço para fazer esquecer que a URSS foi muito mais que a vitória sobre o nazi-fascismo e a conquista do Cosmos.

Que coisa mais linda! Atrás é o Baikal...

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Pontes

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Em lugar de honra junto da Chama Eterna, em Irkurst, está um busto de homenagem ao General Beloborodov, natural de Irkurst, duas vezes Herói da URSS por feitos em combate em 1944 e 1945. Beloborodov juntou-se ao Exército Vermelho com 16 anos, para combater os brancos que dominaram a Região de Irkurst até 1920. Aliás, como a maioria dos Generais Soviéticos da GGP, que se forjaram na Guerra Civil.  É que não é possível honrar os Heróis da Grande Guerra Patriótica e esquecer onde se forjou o Exército Vermelho. Tornando muito díficil vender aos russos a falsificação, tão corrente no Ocidente, de que Stalin liquidara a direcção do Exército Vermelho.  

NOVOSIBIRSKI - Uma Cidade marcadamente soviética

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 A Capital da Sibéria é, até ao momento, a mais marcadamente soviética. E não o digo pela toponímia, ou pela existência das estátuas de Lénine, pelo lugar central da Avenida Lénine, pelo grande Parque dedicado à vitória soviética sobre o nazi-fascismo. Isso é comum a praticamente todas as terras russas. São também muitas as escolas, as universidades, os museus. Tal como em todas as grandes cidades russas.  Mas Novosibirski cresceu com o caminho de ferro, com a electrificação, com a transferência de indústrias para trás dos Urais. O seu centro não foi desenhado sobre o controlo da igreja, da nobreza ou dos capitalistas. Eram já os trabalhadores quem detinha o poder. E isso nota-se.  As ruas são largas, os transportes públicos fenomenais, os jardins e parques abundam, os bairros residenciais - ainda que mal cuidados nestes 30 anos de capitalismo - são convidativos. Pensada para o povo viver, a Capital da Sibéria consegue ser tão bela como Kazan e Ekaterinburg.

A RZD é a Rússia

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Engano-me na bilheteira, e penso que irei pagar mais 50 000 rublos pela mudança de 12 bilhetes. A trabalhadora da Estação corrige-me e devolve-me os 50 000, algo como 4 meses de salário mínimo. Sem qualquer hesitação. Com a naturalidade do que é natural, entranhado, cultural. É verdade que muitas vezes os processos são lentos, por vezes exasperantes mesmo, mas são sempre seguros, justos, eficazes. E isto sem dar o desconto justo pelo facto de nem eu falar russo nem eles falarem português, e normalmente, tão pouco existir uma segunda língua comum. O site da RZD, a empresa de comboios russa, é  de uma eficácia e simplicidade absoluta. Consigo saber horários, preços, número de bilhetes disponíveis e marcar o local onde me quero sentar. De milhares de comboios diários. Eu não o posso usar pois sou vítima do bloqueio do meu próprio governo, que me cortou o acesso ao site em Portugal, e na Rússia me impede o uso dos cartões para pagamentos electrónicos. Cada vagão de comboio tem uma tabela i

Big MacMentira

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Eu sei que é chato que a realidade estrague uma boa mentira. Mas os McDonald's na Rússia estão todos abertos. Em todas as cidades por onde já passei estavam abertos. Enquanto vou lendo as tonterias sobre o assunto que se publicam em Portugal. Esta foto, de hoje, é de Novosibirski... 

A Rússia não é plana

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Deixámos Moscovo há mais de 3000 quilómetros, e ainda não subimos uma montanha, um monte ou mesmo uma colina. Se a Terra fosse plana, olhando para Oeste teríamos de ver a estrela vermelha sobre o Kremlin. Talvez porque venha de Adler e Rostov, este comboio transporta umas dezenas de soldados russos. Jovens, alegres, bem dispostos. Tão mais humanos que os mercenários nazis que a NATO arma (e não falo dos jovens soldados ucranianos, que se alistam para defender a pátria, que devem ser exactamente iguais a estes... com a excepção de um destes, que tem uma chapéu vermelho, civil, com a bandeira da URSS, pelo qual estaria preso na livre Ucrânia, e é livre na oprimida Rússia).  Nas estações esperam-nos as respectivas famílias e namoradas. Os abraços são fortes. A guerra é uma merda. 

EKATERINBURG - O espelho de uma Rússia impossível

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Ekaterinburg é bem o espelho de uma Rússia impossível mas bem real. Em frente à Igreja construída nos anos 90 para honrar o último czar e sua família, eliminados pelos bolcheviques para evitar a sua libertação pelas tropas brancas, ergue-se o Monumento à Juventude Comunista dos Urais. E na Avenida principal, a Avenida Lénine, encontramos, ainda a arder, a chama eterna às vítimas bolcheviques na Revolução de Outubro e na guerra civil.  Numa cidade com mais de 10 teatros e cerca de 30 museus, de ruas amplas e maiores jardins,  com uma rede de transportes públicos gigantesca, onde se vislumbra a vida nos tempos do socialismo, vemos já ao fundo o conjunto de arranha-céus, blocos de apartamentos e centros comerciais típicos do capitalismo.  Este equilíbrio está condenado a ser rompido. A paz entre opressor e oprimido é sempre ilusória. Mas a Rússia de hoje é totalmente diferente da caricatura que dela é feita no "Ocidente". 

A Rússia na vanguarda da descarbonização

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Árvores. Árvores. Árvores. Milhões de árvores. Triliões de árvores. Milhares de quilómetros lineares, numa profundidade de centenas de quilómetros. De árvores. O contributo da Rússia para a descarbonização do planeta tem que ser gigantesco. E pouco reconhecido.  Por mim, passageiro de um comboio a caminho da antiga Sverdlosk, podiam descarbonizar um pouco menos... 

KAZAN, a Capital da República dos Tártaros

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Não se conhece uma Cidade em dois dias. Colecionam-se impressões. Eis algumas.  A cidade, ou melhor, a sua zona antiga, é lindíssima. O verde, azul, dourado e negro dos telhados das igrejas e mesquitas, cruza-se com o vermelho e branco das casas. As várias igrejas ao lado de mesquitas espelham - e querem espelhar - a tolerância religiosa que existe na Rússia. Destaca-se o Kremlin de Kazan, justamente património da Humanidade.  A restauração, e as lojas em geral, espelham a polarização social dos países capitalistas, aqui ainda mais acentuada. Um eclair a 230 rublos na rua Central custa mais que uma refeição completa mil metros ao lado junto à Estação de Comboios.  À porta do Kremlin está um Monumento a Musa Jalil, comunista, poeta, combatente bolchevique na guerra civil, voluntário na Grande Guerra Patriótica, guilhotinado pelos nazis e herói da URSS. Na Universidade, a Estátua de Lénine Jovem, única no mundo, recorda que foi aqui que este estudou.

O Marcelo está gágá

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 Leio as declarações de MRS (sim, na Rússia consegue-se ler os "jornais" "anti-russos"). São tão graves que só lhe encontro uma explicação: o homem está senil, e começa a falar sem filtros. A sua didática intervenção sobre as "vantagens" da guerra para Portugal é esclarecedora. Não só de como esta canalha olha para as guerras: como um prolongamento natural da política, com as suas vantagens e desvantagens, com as suas oportunidades para o empreendorismo e para ganhar dinheiro. Há guerra a Leste? Fixe, vamos ter mais turistas. Há milhões de refugiados? Melhor, vamos ter trabalhadores baratos para servir esses turistas e ganharmos milhões. Mas também do que é Portugal para esta canalha: um couto para ricos caçarem fortunas. É que enquanto os accionistas da Galp ganham fortunas com a especulação, e os dos hipermercados aumentam lucros com a especulação, e os especuladores têm orgasmos múltiplos a jogar ora contra o euro ora contra o rublo, a realidade da guer

Do Báltico ao Pacífico

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Saímos hoje de Leninegrado. Uns para voltar a Portugal, eu e o Clemente para seguirmos até ao Pacífico, aonde chegaremos em Junho. Partilho convosco a foto do último jantar em Leninegrado, num outro restaurante Georgiano. A vida é dura. 

Será o Sol um putinista?

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 Sim. Na Rússia há praia. E os russos aproveitam para trazer as suas crianças à praia. Mesmo que uma brisa do Norte torne impossível o pleno aproveitamento deste magnífico dia de Sol. Parece que o Sol não alinhou com as sanções. Tal como o resto do mundo com a excepção dos vassalos da NATO. 

O meu estômago desmente a Comunicação Social

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Um amigo preocupado pergunta-me se tenho comido. Parece que a Comunicação Social tem dado notícia de que não há comida na Rússia. Digo-lhe duas coisas: não sei como alguém inteligente ainda acredita nas aldrabices que a Comunicação Social espalha; tenho comido como uma pequena besta, em stalovas e restaurantes de diversas regiões, sem esquecer os pequenos almoços nos hotéis. E numa das várias bancas de rua com fruta, ainda comprámos umas cerejas e uns morangos. E toda a gente na Rússia tem acesso a tanta comida? Claro que não. Isto é uma sociedade capitalista. Mas já o era há 6 meses, e só os comunistas denunciaram esse facto.

900 dias e todas as suas noites..

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O Cerco de Leninegrado, que durou 900 dias, continua presente. No Cemitério de Piskaryovskie continua ouvir-se música clássica todo o dia. No Memorial, turmas de crianças visitam-no e ouvem os professores contarem a História. Uma das professoras, num francês magnífico, diz-nos que adorou Portugal - Lisboa, Porto e sobretudo Sintra - e pede-nos que acreditamos que o povo russo ama a Paz. Respondo-lhe que não tenho qualquer dúvida sobre isso.  E que me dizem desta impressionante pilha de cravos, depositada, cravo a cravo, no Memorial às vítimas? 

As crianças que o "Ocidente" se recusa a chorar

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Em Leninegrado, fotos de crianças ucranianas de Lugansk e Donetsk, vítimas dos ucronazis. Nem uma lágrima verteram por estas crianças a maioria dos hipócritas que agora chora às ordens da NATO. Choram-nas aqui, nesta Rússia que tantos demonizam. Choram-nas e estão disponíveis a ir à luta para evitar que mais crianças chorem.  A paz que é necessária só será paz e só será possível se incluir estas crianças. 

Geórgia, além do maior dos Marechais, uma grande cerveja

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Se vierem à Rússia, recomendo. Uma grande cerveja. Georgiana. Os restaurantes também são do melhor que por aqui se encontra. 

Os bolcheviques promovem a ignorância através da alfabetização

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 Desde a última vez que estive em Leninegrado, há 7 meses, o Museu da História Política da Rússia levou uma volta de uns 120 graus. Os materiais são os mesmos, mas as legendas e organização da coisa foram profundamente alteradas. Logo numa das primeiras salas, uma legenda explica-nos que os bolcheviques promoviam a alfabetização das pessoas apenas para que estas pudessem ser vítimas da sua propaganda. (A consequência lógica deste belo raciocínio será a de considerar o Czar um verdadeiro filantropo por manter o povo russo num iluminado analfabetismo.)  Até Gorbatchov, um ser justamente desprezado por todos os russos, teve direito a uma sala elogiosa.  Tudo é tão básico, tão ranhoso, que até parece escrito pelo Milhazes.  O cúmulo é o painel sobre "a Guerra de 41-45", que é contada pelo guião fabricado pelos EUA durante a Guerra Fria. Desapareceram as referências à Guerra Civil Espanhola e a Munique, e tudo começa com o pacto Molotov-Ribentrop. Diz muito da Rússia, do poder na

É a loucura! Gasolina na Rússia está nos 67 cêntimos!

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A foto é de Leninegrado. Hoje. Gasosa entre 0,67 e os 0,8 euros. Em Portugal deve andar pelos 2 euros. Os Mellos serão "putinistas"? 

Que morem no Sino

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No Kremlin estão duas aberrações, absolutamente inúteis para a função que em teoria seria a sua, mas muito utéis para perceber o papel da aristocracia de então. Quantos milhares de arados, foices, martelos, pilares ou carris se podiam ter construído em vez daquele sino onde uma família podia viver e de que nunca se escutou uma badalada? E com o gigantesco canhão que nunca deu um tiro e está exposto mesmo ao lado do mudo sino? Recordo a famosa frase atribuída a Maria Antonieta (que alguns insistem em jurar que ela nunca disse, sem perceberem que o que importa é o que o povo ouviu e porque ouviu). E consigo ver a corte dos Romanov, dizer o mesmo tipo de barbaridade que a decapitada rainha. "Não têm casa? Morem nos sinos!"

Macdonald e sanções

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 A foto é da Estação de Leninegradski. São onze da noite e quase cem russos fazem bicha para o Macdonald. Uns metros mais à frente, um bar faz um excelente hamburguer bbq, saboroso mas sem marca e sem fila, que os 12 tugas mamaram acompanhados por cerveja ou Pepsi. Em Lisboa acreditámos que as sanções tinham tido um efeito positivo na saúde do povo russo, pela saída - anunciada - destas multinacionais do território Russo. Constatámos, com pena, que tal não era verdadeiro. 

Kiev, Cidade Heróica da URSS

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 Enquanto os reaccionários europeus aproveitam a actual situação para destruir monumentos evocativos do papel do Exército Vermelho na libertação da Europa, em Moscovo, os monumentos a Kiev, uma das 12 cidades heróicas da URSS, continuam a ser honrados. Naturalmente. 

E você, já tem uns ténis Z?

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No mesmo Centro Comercial onde as lojas europeias estão fechadas devido às sanções, (razões técnicas informa o cartaz na porta) é uma multinacional americana quem vende o grande sucesso da Primavera. 

9 de Maio - A Parada do Regimento Imortal

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Milhões. Muitos milhões. Não importa precisar quantos. Nem é possível. Tratemos apenas de tentar descrever uma Marcha indescritível. São famílias inteiras. que transportam orgulhosas as fotos dos seus pais, avós, tios ou bisavós. Alguns imprimiram as fotos em luxuosos capalines, outros trazem a foto da parede da sala de jantar, alguns, uma simples fotocópia colado num cartão. Os paus das bandeiras também variam, paus de vassoura, bengalas, tubos de todas as formas e feitios. Alguns trazem as medalhas da família num mostrador, outros ao peito, outros ainda deram essa honra ao rapaz mais jovem da família. Todos levam a fita de São Jorge. São oferecidas igualmente milhões de fitas com as cores da Rússia. Que muitos usam. Bandeirinhas oferecidas são quatro: da Rússia, de Moscovo, do 9 de Maio e a réplica da bandeira originalmente hasteada no Reichstag, com a foice e o martelo e as letras que descrevem a 150ª Divisão de Infantaria. Quem leva bandeiras maiores trouxe-as de casa. O que aument

9 de Maio - Ainda no Hotel

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As duas empregadas do restaurante já estavam de serviço ontem à noite. É sempre útil que a realidade se nos imponha logo pela manhã, ao pequeno almoço. A Rússia é hoje um Estado capitalista. Mas adiante. Hoje é 9 de Maio. Todos os empregados usam a fita de São Jorge (símbolo do exército russo). Muitos clientes também. Uma rapariga russa exibe um Z na camisola. Noutra, o Z é composto com fitas de São Jorge. Um casal mais velho usa um par de camisas iguais, com os Z nas cores da Rússia. Um homem com uma camisa vermelha com o escudo e as letras CCCP. Na mesa do restaurante, um cartão de felicitações pelo 9 de Maio. Com o símbolo do Exército Vermelho - a estrela de 5 pontas e a foice e o martelo. Estamos num Hotel maioritariamente para russos. Já assim era antes que o Covid e a propaganda afastassem o grosso do turismo. E o ambiente é de festa, festa política, festa nacional, mas festa. Lembro-me da colega da Lurdes, que não compreendia como esta ia à Rússia, pois não havia comida e o povo